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O PRESSÁGIO

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Alex Proyas em seu novo “O Presságio” marca sua volta com maestria. Depois do ótimo “Cidade das Sombras” e do mediano “Eu,Robô” o diretor consegue oscilar entre o suspense, ficção e drama familiar. Afinal tratar de temas apocalípticos têm sido muito comum, mas Proyas encanta em aproveitar-se do clichê e transformar a ficção em uma possível realidade.
Nos minutos iniciais o filme parece promover uma proposta um pouco clichê dos filmes de terror, homenagem ou não, vemos a convenção utilizada em “O Iluminado” quando somos apresentados a Lucinda Embry (Lara Robinson) uma garotinha que parece escutar certos tipos de vozes e acaba escrevendo números estranhos em uma folha de papel, quando sua professora pede a sala de aula produzir desenhos que serão colocados numa “Cápsula do Tempo” que será aberta depois de 50 anos. Após esse tempo entram na trama o astrofísico John Koestler (Nicolas Cage) e seu filho Caleb (Chandler Canterbury), que estuda na mesma escola que a garotinha Lucinda, recebe como parte das comemorações dos 50 anos da instituição, uma folha com números escritos preenchida por Lucinda retirada da “Cápsula do Tempo”. Não demora muito para que John descubra que aqueles números remetem as datas de grandes tragédias ocorridas nas últimas décadas, assim como os locais, o número de vítimas e os três últimos desastres que acontecerá nos próximos dias.
Baseado na atmosfera sombria de “Cidade das Sombras”, sem o processo expressionista, Proyas cria uma narrativa pesada e angustiante em “O Presságio”. Filmado no outono norte-americano, todo esse ar frio e melancólico, reflete-se nas árvores semi-nuas, o chão coberto de folhas secas e o céu acizentado de vez em quando. A evolução da trama mergulha o espectador num clima de tensão crescente, em meio a reviravoltas e descobertas que desafiam a compreensão da inteligência e razão do protagonista e a cada cena a história se torna cada vez mais interessante à medida que a trama vai se fechando, o roteiro procura não seguir um encadeamento lógico por mais que ameace soar absurdo ou fantástico. Como foi dito “ O Presságio” é uma ficção, mas com possíveis verdades.
Nicolas Cage, retorna dessa vez sem seus maneirismos e encarna John Koestler como um homem deprimido e que vive em função do seu filho e na maior parte do tempo ele se sai admiravelmente bem ao retratar a forte ligação com Caleb. Cage também fascina com a forma de lidar com a descoberta, fascinado ele desafia sua posição e precisa combater seu determinismo com a busca da escolha própria.
Repleto de simbolismos, “O Presságio” realmente fascina pela sua força imagética e dessa forma se torna um filme fora dos parâmetros comerciais, mesmo se promovendo como se fosse. A discussão da existência humana também é retratada de forma muito madura, o filme não se nega discutir religião, ciência e o que muitos filmes se negam discutir, “falsas verdades” e a própria evolução da humanidade.
“O Presságio” é um filme que encanta e gera reflexão, primeiro pelo fato da categoria dos efeitos especiais e segundo pelo o que ele quer ser discutido. Poucas e poucas obras tem a coragem de botar a cultura de massa em reflexão, de repente até anestesiar aquilo que é possível no futuro, mas feliz de Alex Proyas que volta tornar a buscar da massa a discussão do mundo, afinal ficar nos quatro arreios do apocalipse têm sido o atraso de um Mundo que fica estagnado nas possibilidades do sobrenatural.

O CINEMA NO DIVÃ

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Assistir um filme tem sido um pouco mais do que entretenimento, a ciência tem buscado sua utilidade na área cinematográfica e descobriu que personagens e histórias bem construídas são ótimos remédios para a mente do espectador. É a filmeterapia.
Algo como assistir “Ray” e através de sua traumática história resolver um pouco os problemas de baixa auto-estima ou reconhecer o nosso poder interior com o magnífico “O Mágico de Oz” e combater a depressão ou até mesmo o pessimismo combatido por “Um dia de Cão”.
Um dos precursores dessa técnica terapêutica é o psicólogo norte-americano Gary Solomon. No livro “The Motion Picture Prescription” (“O Cinema como Remédio”), Solomon afirma que os filmes são verdadeiras representações da vida cotidiana e exemplos de como a vida imita a arte. “Se uma pessoa assistir a um longa que se encaixa em sua problemática pessoal, é muito provável que se identifique e encontre um jeito de aprender e crescer com ele”, afirma Gary Solomon.
Os psicólogos seguidores da filmeterapia indicam filmes com enredos semelhantes às histórias dos pacientes. Psicanalistas também têm adotado a técnica, assim como Jacob Pinheiro Goldberg, autor do livro “Psicologia em Curta-Metragem”. “Também costumo recomendar para meus clientes filmes que de alguma maneira expõem o significado da existência, como os do diretor japonês Akira Kurosawa. Quem procura a psicoterapia e a psicanálise quer entender o significado da sua vida”, diz Jacob.
A filmeterapia trabalha o reconhecimento e a compreensão dos conflitos, assim como o equilíbrio das emoções. “Se o paciente está em depressão, prescrevemos uma comédia para levantar seu astral. Já se ele estiver muito eufórico, o remédio é um filme mais realista”, explica a psicóloga clínica Joya Eliezer.
O resultado da filmeterapia é imediato, dizem os especialistas. “Não importa a emoção da pessoa – choro, raiva, alegria, excitação - , o alívio é imediato”, diz o psicanalista Geraldo Martins, coordenador do projeto “Ler a Imagem”, do Centro Universitário Newton Paiva, em Belo Horizonte.
Não basta apenas sentar frente à tela e assistir a qualquer filme para que a filmeterapia seja eficiente. “Antes de mais nada, o terapeuta precisa compreender o que se passa com o paciente, para não recomendar uma história errada. Depois ele explica o porquê de determinado filme e pede para que o paciente anotar os pontos mais sensíveis, que mais mexem com ele, para serem discutidos”, explica Joya.
O psicanalista italiano Vincenzo Mastonardi, professor de psicopatologia forense da universidade La Sapienza, de Roma e autor de “Filmtherapy – I Film Che ti Aiutano a Stare Meglio” (Filmeterapia, os Filmes Que Ajudam Você a Estar Melhor) e um dos maiores especialistas do mundo em filmeterapia. Na obra ele cataloga mais de 2000 títulos indicados para tratar males causados por conflitos familiares e amorosos, dificuldades no trabalho, depressão, ansiedade e distúrbios do humor, assim como outros. Mastonardi afirma que, ao término do tratamento, os pacientes apresentam uma sensível diminuição na predisposição dessas patologias.
É o cinema e/ou os filmes mais uma vez mostrando sua representabilidade na vida dos indivíduos, desde sua invenção é possível a cinematografia ter sido um dos remédios da “cura” do mundo, afinal não existe nada melhor do que ser representado. A filmeterapia às vezes pode até não ser o esperado, mas com certeza a satisfação de ver um filme ou ir ao cinema é sempre válida, é só olhar em volta, sozinho ou não você sempre vai estar bem acompanhado.

FONTE: REVISTA GALILEU