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RINGU
















Uma misteriosa fita de vídeo que, ao ser assistida, lança uma terrível maldição em seus espectadores, que morrem exatamente sete dias depois. Esta é a idéia principal de Ringu, filme do diretor Hideo Nakata que jamais esperou o que significaria sua obra para o cinema japonês no gênero terror.
Nakata criou um filme nada ousado, mas muito efetivo, tanto é que cinco anos mais tarde foi testemunha de ver sua obra sendo refilmada (O Chamado I e II) nos Estados Unidos pelo diretor de A Mexicana e o Ratinho Encrenqueiro, Gore Verbinski. Mas com uma idéia tão batida, quem sabe as vezes até “hollywoodiana”, como Ringu teve grande sucesso no Japão e contribuiu tanto para o cinema japonês? Aqui entra a questão não o que se escreve, mas como se escreve. A idéia de Ringu pode até ser clichê, mas a maneira que Hideo Nakata constrói a narrativa, é que soa original.
Uma interessante história sobre uma fita de vídeo que, ao ser assistida, lançava uma terrível maldição em seus espectadores, que morriam exatamente sete dias depois. É então que uma jornalista resolve investigar o caso e, sem acreditar muito na lenda, acaba assistindo ao vídeo – somente para descobrir, logo em seguida, que a tal praga é real. Desesperada, ela pede a ajuda do ex-marido para que, juntos, consigam descobrir uma forma de cancelar a maldição antes que esta provoque sua morte.
O filme de terror atmosférico de Hideo Nakata não desilude de forma alguma. É uma história de terror contada sutilmente, sem estilizações, mas com uma eficácia narrativa e visual absolutamente desarmante. A trilha sonora é construída adequadamente ao estilo atmosférico do filme, um cruzamento de pessoas gemendo, com barulhos e chiadeiras de metais e água escorrendo, muito bem trabalhada. A sua atmosférica opressiva, lenta e cuidadosamente criada pelo diretor, minuciosamente, suga o espectador, deixando-o sem ações durante a trama toda do filme.
A metalinguagem utilizada por Nakata na narrativa, a maneira de agregar à sua história uma certa impiedade bem realista em relação a idéia do filme, a medida que o filme lança lentamente ao espectador a razão da maldição existente na fita, das origens, casualidades. O diretor não se preocupa apenas em mostrar esses mistérios, mas os mistérios existentes na relação entre os personagens. A jornalista por exemplo, acaba criando uma relação um tanto fria com a maioria dos personagens que aparecem ao decorrer da trama. Hideo Nakata trabalha tão bem e com tanta sutileza esse relacionamento que no filme, representado pelos figurantes, as pessoas que andam pela cidade, no mundo moderno do Japão, estão sempre correndo, estressadas, esbarrando uma nas outras, sem a tradição que os ocidentais estão acostumados a se deparar, mesmo na cena em que a jornalista vai para a casa do pai de Sadako (a garotinha que sai do poço) a casa no estilo oriental, que perde sua tradição para o mundo moderno. As personagens que aparecem não criam quase algum laço emocional e Nakata faz questão de ser frio nesse aspecto, deixando a entender para o espectador que tudo e todo acontecimento misterioso está relacionado à maldição da fita.
Ringu passa na tela de uma forma tão misteriosa que não conseguimos igualar a um filme hollywoodiano que escancara o terror na cara dos espectadores, razão que Nakata mostra ao mundo que o maior terror e o maior medo é feito de sutilezas. Ringu não é um filme para a massa, mesmo por que a massa não se diverte com sutilezas. E também não deixa de ser um filme de horror, pela proximidade de que Nakata cria com seus personagens, a vertente de filmar um envolvimento que passa na mente de seus personagens, que chega ao fim de alguma forma trágica, e bastante esperançosa. A maldição pode ser fatal, mas o ser humano é mais forte e inteligente que isto.
Ringu sobretudo se tornou emblemático, ao ponto de se tornar um marco no cinema de gênero terror, responsável por criar um novo estilo, suscitando uma nova formada de filmes de horror asiático. O intento de Hideo Nakata é fugir das regras do cinema ocidental, com o objetivo de entreter o espectador, não preocupado com momentos de suspense e terror, mas preocupado em envolver-se com a angústia junto aos personagens que procuram a solução para tal maldição. Nakata foge do tradicional, a construção do horror se resume a momentos de espera para um assassinato ou morte, seguido por uma trilha sinistra, que serve apenas para um pulo na poltrona. A função de Ringu é criar tal atmosfera para capturar e torturar o espectador durante o filme todo.
O cinema ocidental finalmente despertou para olhar outras vertentes, até mesmo os próprios espectadores, causalidade de um tempo que se esgotou dos clichês e das mesmices. Os gêneros cinematográficos tornaram-se cansativos, os espectadores alienados por um cinema cheio de regras. O cinema asiático tem lutado muito contra essas regras, dando margem para a verdadeira expressão e criação da arte. Pena a força maior ainda estar com a grande potência ocidental, mas o começo já é uma maravilha. O cinema mundial atual foi jogado para o fundo de um poço sem luz, massacrado pelos clichês que copiam a mesma fórmula de se fazer cinema, mas sempre há aqueles que fazem cinema, diferenciando a melhor forma de se expressar, saindo vagarosamente do fundo, e lentamente, da tela de cinema ou da própria televisão “atacar” os mais profundos sentimentos do espectador, representando sempre bem a melhor forma da criação.

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